
Novidades no G1
31-08-2017
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS PRINCÍPIOS
Os princípios educacionais seguidos pela Creche de São Carlos são influenciados por conhecimentos e conquistas da infância organizados particularmente nos últimos 28 anos, período que corresponde a idade dessa unidade. Por considerar essa história é que destacamos alguns aspectos da concepção adotada em São Carlos, como também pela Divisão de Creches da USP.
A Infância como fase específica do desenvolvimento humano
Historicamente, o reconhecimento da infância como uma fase importante da vida, marcada por especificidades, necessidades e expressões particulares, é recente. A diferenciação entre o mundo da infância e o mundo do adulto foi construída, socialmente, em decorrência dos acontecimentos e transformações ocorridas no mundo, ao longo dos tempos.
A Creche contempla as necessidades e particularidades do mundo da infância, atendendo-as nos aspectos biológicos de provisão e proteção, e no desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Acreditamos na capacidade característica (diferente da adulta) da criança transpor barreiras, criar movimentos, descobrir e inventar, produzir e compreender acontecimentos e vivenciar situações de faz de conta, ou seja, viver em “processo”. Este processo de desenvolvimento se constitui em todos os sentidos (psíquico, físico, emocional, social, etc.) e se dá através da participação plena na vida social. Neste sentido, nosso norte está no binômio cuidado – educação e nos direitos da criança.
Concepção sócio-interacionista
No final do século XIX, a psicologia trouxe avanços para a visão de infância, ultrapassando idéias como a comparação da criança como uma “página em branco”, incapaz de ter idéias próprias e, a idéia romântica da criança como um ser puro e incapaz de enfrentar obstáculos. A psicologia trouxe à tona a criança enquanto ser humano, com capacidades psíquicas, impulsos instintivos, desejos, emoções e conflitos que são postos em ação durante o processo de socialização. Contribuições importantes para a compreensão do desenvolvimento infantil e a influência da sociedade, neste processo, foram apresentadas por Piaget , Wallon e Vigotski, entre outros.
A Creche compartilha das ideias sócio-interacionistas sobre desenvolvimento, destacando as interações no ambiente, com outro (crianças e adultos) e com o objeto.
A partir do momento em que nasce o bebê é apresentado ao meio social pelos adultos por ele responsáveis. Assim se inicia um processo de inserção que compreende: interação, exploração e conhecimento do meio. É o adulto o responsável pela mediação entre o mundo circundante e a criança. Esta mediação vai além das possibilidades de ações com os objetos e seu uso social, abrange também a vivência de valores e conhecimentos culturais, estéticos e morais. Valores estes, que podem variar em cada cultura. Quanto maior for o número e a variedade de experiências e interações da criança com o mundo em que vive, maior será seu repertório de ações possibilidades de compreensão sobre este meio.
A atividade da criança deve ter caráter de desafio aos processos psíquicos em desenvolvimento. O papel do adulto é criar oportunidades e situações para que a criança vivencie e supere estes desafios. Para tanto, é fundamental que a criança seja atuante dentro deste processo. Sua atuação não deve ser passiva, obedecendo aos comandos de alguém, sem ciência do processo; ao contrário, deve ser ativa dentro do processo, buscando soluções, traçando estratégias etc. ao adulto cabe oferecer ferramentas para esta atuação, favorecendo conhecimentos e provocando pensamentos e ações. Ressaltamos que as situações de aprendizado ocorrem durante as interações vividas, momentos propícios para as crianças aprenderem a se relacionar com o outro e fazer reparações.
Acreditamos que o desenvolvimento psíquico é norteado pela própria vida da criança, principalmente por sua atividade. De acordo com a teoria Histórico-cultural, na infância, a atividade responsável pelo desenvolvimento psíquico tem como conteúdo a brincadeira.
Participação e os direitos da criança.
Em 1959, com a Declaração Universal dos Direitos da Criança, promulgada pelas Assembléia Geral das Nações Unidas, a infância foi legalmente reconhecida como uma fase autônoma e com uma série de necessidades específicas. Neste momento, garantia-se em lei um conjunto de direitos, que asseguravam proteção às necessidades básicas da criança, como a sobrevivência, a brincadeira, a identidade etc. Na década de 80, considerando as mudanças sociais e as concepções vigentes acerca do desenvolvimento infantil inclui-se como direito à tomada de decisão e o direito da criança a participação na sociedade.
Observando criticamente este percurso histórico percebemos a existência de várias infâncias convivendo com a mesma definição, embora tenham a qualidade, tempos, direitos e oportunidades diferentes. Ainda hoje podemos observar crianças em situação de risco, maus-tratos, exclusão, fome e violência.
Portanto, para falarmos do grau de participação da criança na sociedade, precisamos contextualizar histórica e socialmente as condições em que ela está inserida. Principalmente, verificar o “como” o mundo circundante entende e concebe o que é ser criança e qual papel ela ocupa, dentro da sociedade em que vive. Vale lembrar que a sociedade é formada e comandada por adultos e estes tem concepções, condições de vida, saberes, crenças e maneiras de viver diferentes entre si. O que nos leva a hipótese de que o espaço de participação da criança é determinado pelos adultos a sua volta, ou seja, pela a família e pela unidade escolar.
A Creche e Pré-Escola de São Carlos busca planejar ações que envolvam os adultos responsáveis e as próprias crianças, na reflexão conjunta sobre estes direitos e mais ainda, sobre como entendê-los e propiciá-los. Esta tarefa requer a união de todos, pais, professores, diretores, funcionários e crianças na construção de um ambiente de respeito e compreensão a infância suas necessidades e particularidades, favorecendo o desenvolvimento pleno, a real participação, e o exercício de cidadania.
As crianças pequenas vivenciam os fatos históricos e os acontecimentos que ocorrem na sociedade, estabelecendo suas próprias idéias. Ao adulto cabe incentivá-las e orientá-las para que suas idéias superem o senso comum e se desenvolvam como conhecimento. Cabe ao adulto possibilitar o contato, a compreensão e por conseqüência o respeito às diferentes culturas e modos de viver.
Nosso objetivo é oferecer à criança uma estrutura de educação diferenciada, trabalhando as diferenças no processo de construção de identidade do grupo e de si mesmo. Este objetivo está inserido em nossos eixos de trabalho: Brincar, construção da identidade (individual e coletiva), construção da intimidade, autonomia, expressão das diferentes linguagens (musical, gráfica, oral, gestual, matemática etc.) e educação ambiental.
A Creche e Pré-Escola entende que a construção do conhecimento pela criança acontece na e pela interação de vivências no ambiente. Estas situações devem ser planejadas pelo adulto, na perspectiva da criança como sujeito de seu próprio aprendizado. Portanto, as situações educativas devem favorecer a curiosidade, a autonomia, a troca de conhecimentos e o prazer em conhecer. A escolha das temáticas estudadas parte sempre da necessidade ou interesse da criança e a forma de abordagem pode ser assim planejada:
Projetos de trabalho: São ações educativas ligadas por um fio condutor, ou seja, um tema a ser profundamente estudado e envolve todas as possíveis áreas de conhecimento e tem começo, meio e fim, contendo necessariamente um produto final. O tempo de duração é variável.
Ações educativas permanentes: são ações que acontecem independentemente do projeto, podendo variar na sua forma de apresentação, são elas as rodas de conversa, os momentos sobre alimentação e higiene, a escolha do ajudante do dia etc.