Artigo: Inovação, um urgente projeto de longo prazo

Por Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP; Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP; Paulo A. Nussenzveig, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP; e Raúl González Lima, pró-reitor adjunto de Inovação da USP

O conhecimento tem valor estratégico e econômico preponderante. A prosperidade é cada vez mais inalcançável sem investimentos em educação, geração de saber através da pesquisa científica e sua apropriação econômica.

No Brasil, as melhores universidades atingiram níveis de excelência na formação de profissionais e na geração de conhecimento, mas podem contribuir mais para que tudo isso seja incorporado ao cotidiano, participando da qualificação da atividade econômica e da formulação de políticas públicas.

A USP elegeu o apoio à inovação como uma de suas prioridades. Embora o termo apareça com frequência no debate público, falta clareza sobre sua fundamentação.

A inovação é um processo que parte de uma ideia e resulta em benefícios sociais, culturais, ambientais ou econômicos. Experiências de outros países mostram que impacto significativo só é obtido quando os setores governamental, privado e acadêmico criam em conjunto, com sintonia e sinergia.

A articulação entre os três setores exige objetivos de longo prazo, tenacidade e continuidade de planejamento e execução. O governo traz anseios da sociedade e precisa estabelecer áreas prioritárias na inovação.

Deve ter protagonismo no planejamento e na coordenação, se responsabilizar por infraestrutura urbana, com zoneamento para o compartilhamento de espaços conjuntos de criação, e por incentivos por período determinado e com exigência de contrapartidas. O arcabouço legal e fiscal precisa ser aprimorado para garantir segurança e agilidade.

O setor privado, por sua vez, possui sensibilidade para o potencial disruptivo, social e econômico, de ideias originais e criativas, contribuindo para atrair capital de risco. A participação das universidades vem do conhecimento acumulado e da exploração das fronteiras atuais do saber, além da formação qualificada dos jovens.

Inovações disruptivas são fruto da combinação do conhecimento criado por pesquisa científica e a percepção sensível dos potenciais impactos no cotidiano.

Há exemplos bem-sucedidos como o de Ontário, no Canadá. No final dos anos 1990, o governo local promoveu ações sistemáticas para acelerar a inovação. Compreendendo que o processo é local, com máxima eficiência quando colaboradores acadêmicos e privados atuam dentro de um raio de 30 km, Ontário criou 18 centros de inovação. Em vez de centralizar, o ideal é aproveitar as competências de universidades e a vocação econômica de seus entornos.

Em Toronto, o distrito de inovação MaRS entrou em operação em 2005. Era financiado com 100% de recursos públicos; atualmente, a fração é de 40%. Toronto é, hoje, uma das quatro mais importantes cidades da América do Norte em tecnologia e, ao longo dos últimos cinco anos, gerou a segunda maior quantidade de empregos nessa área no continente.

Nas eleições, os programas de governo devem contemplar um urgente projeto de Estado, com políticas a serem mantidas por ao menos duas décadas, para a sociedade colher os frutos de criatividade, engenhosidade, tenacidade e empreendedorismo de nossa gente.

São Paulo concentra capital financeiro, empresariado, parque industrial e produz significativa fração da ciência do País. A USP está à disposição para desempenhar seu papel nessa desafiadora tarefa.

(Artigo publicado originalmente na editoria Tendências / Debates, do jornal Folha de S. Paulo, em 1º/8/22)

Por Jornal da USP

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