Menção Honrosa do Prêmio CAPES de Tese: Pesquisa elimina interferentes endócrinos da água

Água potável e segura para todos é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU para 2030.   Segundo dados do Portal do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, no ano de 2019, o segundo maior fator de consumo de água no estado de São Paulo foi a indústria (30,2%), seguida pelo abastecimento urbano (21,2%).

A água para consumo humano é capitada em mananciais e passa por estações de tratamento, mas os métodos convencionais não conseguem retirar todos os poluentes originados de resíduos domésticos e industriais.  Assim, diariamente estamos expostos ao consumo desses contaminantes, alguns dos quais são interferentes endócrinos e, mesmo em pequenas quantidades, podem causar danos ao meio ambiente e à saúde humana e animal.

Artur Motheo, Dawany Dionisio e Manuel Andrés Rodrigo. Foto: acervo pessoal

A tese de doutorado de Dawany Dionisio, orientada pelo Professor Artur de Jesus Motheo, ambos do Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP), descreve importantes resultados obtidos a partir de estudos de técnicas eletroquímicas em conjunto com ultrassom para remoção de contaminantes de diferentes efluentes sintéticos originados de processos industriais para a fabricação de produtos de uso diário como: fármacos, pesticidas e cosméticos.  O objetivo final da pesquisa é modernizar os atuais processos e aplicar esse tratamento em grandes volumes de água.

O trabalho “Efeito interferente de compostos orgânicos no tratamento de efluentes sintéticos, contendo metil parabeno, por processos eletroquímicos” apresentado por Dawany em fevereiro de 2019, recebeu Menção Honrosa na 15ª edição do Prêmio CAPES de Tese, cujo resultado foi divulgado no início do mês.

“Fiquei bastante surpresa e feliz! Eu não acreditava que meu trabalho pudesse ir tão longe”, afirmou Dawany quando soube da conquista.  Mas a pós-graduação não foi fácil para quem concluiu a graduação em Química no IQSC e já iniciou a pós-graduação sem passar pelo mestrado: “lutei bastante para conseguir a oportunidade do doutorado direto e conseguir realizar tudo que eu pretendia durante o doutorado”, informou.

A maior parte da pesquisa utilizou a infraestrutura do Laboratório de Eletroquímica Interfacial (LEqI) do IQSC, coordenado pelo professor Motheo mas a pesquisa extrapolou o laboratório: “em algumas ocasiões precisei de técnicas específicas e recorri à CAQI,  que é muito importante para todas as pesquisas do Instituto”, reconhece.  Como toda pesquisa interdisciplinar, o apoio entre os grupos de pesquisa do IQSC foi importante “também contei com colaborações de outros laboratórios para análises mais específicas, como do professor Álvaro Neto [Grupo de Cromatografia], do professor Eduardo Bessa [Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Ambientais] e da professora Ana Plepis [Grupo de Bioquímica e Biomateriais], e outros professores que contribuíram para a parte teórica de análise dos resultados”.   O trabalho envolveu o desenvolvimento de novos protótipos para os testes de descontaminação e nesse aspecto, a atuação do Serviço de Oficinas do IQSC foi importante: “as oficinas Mecânica e de Vidros foram extremamente importantes para mim. Precisei desenvolver novos reatores e sistemas e contei muito com a ajuda dos trabalhadores técnico-administrativos de lá”.

A colaboração científica entre o Grupo do IQSC e a Universidad de Castilla – La Mancha permitiu que parte do trabalho fosse desenvolvida na Espanha, sob orientação do professor Manuel Andrés Rodrigo Rodrigo. O intercâmbio impactou sua pesquisa “trabalhei com engenheiros químicos, o que me deu um novo ponto de vista” e sua formação.  Graças a um convênio de cotutela firmado entre as duas instituições, ao receber o título de Doutora em Química no Brasil, ela também recebeu o título de Doutora em Engenharia Química e Ambiental na Espanha.  “A dupla titulação abre portas para contatos internacionais, bem como para oportunidades de trabalho/pesquisa internacionais que não são possíveis apenas com o título brasileiro” nos conta Dawany.

A tese também deu origem a diversas publicações científicas, em particular, o trabalho Effects of ultrasound irradiation on the electrochemical treatment of wastes containing micelles, escrito em co-autoria, publicado em fevereiro de 2019 no periódico internacional Applied Catalysis B: Environmental.

No início da pós-graduação Dawany obteve bolsa institucional da CAPES; dois anos e meio depois mudou para uma bolsa da FAPESP.  Atualmente desenvolve seu pós-doutorado na mesma área.

Artur Motheo explica a importância da pesquisa nos perguntando: “O que nós vamos deixar para as futuras gerações? Uma água que não é adequada para os nossos filhos ou vamos deixar alguma coisa que seja realmente digna para a nossa sobrevivência?”

Prêmio

Do total de 1421 candidatos, 49 receberam o prêmio e 98 receberam Menção Honrosa.

A USP foi contemplada com o maior número de trabalhos premiados. “A USP foi contemplada com 12 prêmios e 14 menções honrosas em 22 das 49 diferentes áreas de avaliação da Capes”, constatou o Pró-Reitor de Pós-Graduação, professor Carlos G. Carlotti Junior.  “Nossa pós-graduação foi reconhecida como tendo a melhor tese em 24,4% das áreas avaliadas e representada com o prêmio ou menção honrosa em 44,8% delas”, complementou.

O Prêmio CAPES de Teses resulta de parceria entre a CAPES, o Instituto Serrapilheira, a Comissão Fullbright e a Fundação Carlos Chagas.

Por Sandra Zambon/Assessoria de Comunicação IQSC

 

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