Plataforma colaborativa de imagens de arquitetura busca conhecimento coletivo sobre o urbano

Arquigrafia, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, inicia atualização de sistema para ampliar capacidade da plataforma de compartilhamento de imagens em nova fase

Já imaginou um espaço na internet que reúne imagens e arquivos ligados à área de arquitetura e urbanismo da cidade de São Paulo, de qualquer cidade do Brasil ou do mundo, e no qual qualquer pessoa pode acessar o conhecimento ou ajudar a ampliar o banco de imagens a partir da inserção de material para compor o acervo? Este lugar existe, funciona há mais de dez anos e se chama Arquigrafia.

Idealizada em 2008 e próximo de completar 13 anos de existência, a plataforma colaborativa Arquigrafia faz parte de um projeto interdisciplinar da USP idealizado pelo professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) Artur Rozestraten. O projeto, que deu origem ao sistema em operação desde 2011 e já conta com mais de 13 mil imagens para consulta, envolve a construção de um ambiente colaborativo de imagens de arquitetura na Web que estimula o compartilhamento de informações, experiências e imagens de edifícios e de espaços urbanos.

Com um enfoque temático bem distinto, por exemplo, da rede social Instagram, no que se refere a sua abrangência, o Arquigrafia se diferencia por ser uma plataforma educacional que vai além do simples registro e disponibilização de imagens, pois prioriza informações detalhadas sobre o conteúdo dos registros fotográficos na plataforma, incluindo dados de localização, detalhes descritivos referentes a arquitetura, avaliações de usuários, sugestões, imagens relacionadas e outras informações. Além de ser um espaço que garante o acesso a registros atuais e documentação histórica essenciais para consultas no futuro.

Segundo o coordenador do projeto, professor Artur Rozestraten, o Arquigrafia é importante porque contribui para uma formação contínua tanto dos estudantes, arquitetos e urbanistas quanto do público em geral a partir do registro do seu próprio lugar, bairro, rua e região que habita. “O Arquigrafia proporciona uma aproximação com uma realidade que é sensível e que pode ser percebida quando se caminha por um trecho de uma cidade, por exemplo, e esta percepção pode ser compartilhada por meio de representações fotográficas na plataforma”, destaca.

 

Para a professora Kalinka Branco, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos no Departamento de Sistemas de Computação e uma das pesquisadoras responsáveis pelo sistema operacional do Arquigrafia, a atual missão do projeto é aprimorar a parte computacional da plataforma. “Temos desconstruído o Arquigrafia para poder verificar como ele foi concebido e como está estruturado. Isso porque estamos reconstruindo o projeto para que ele fique mais robusto, rápido, com interações não somente homem-máquina, mas entre sistemas mais interoperáveis”, adianta a professora Kalinka.

Telas com imagens cadastradas na plataforma Arquigrafia – Foto: Divulgação/Arquigrafia

Nova Fase: Arquigrafia 4.0

Com o apoio financeiro da Fapesp como projeto temático entre 2022 e 2026, o projeto acaba de iniciar este novo desafio que se destaca pela ampliação e consolidação da plataforma. O Experiência Arquigrafia 4.0 pretende lidar com questões críticas sobre a internet atual e o horizonte de desenvolvimento da Web 4.0. Para isso o projeto investe nas possibilidades de enriquecimento mútuo entre a experiência sensível cotidiana e a construção, organização, representação e recuperação de conhecimentos sobre as cidades no presente, na memória e no desejo projetual para o amanhã.

O coordenador explica que para a consolidação do sistema a ideia é integrar novos recursos à plataforma, recursos que vão além de representações de imagens fotográficas. “Estamos trabalhando para uma abertura desse entendimento de imagens para um escopo mais amplo de materiais a serem disponibilizados pela plataforma, como vídeos, desenhos, mensagens de áudio, todos georreferenciados e acessíveis por meio de dispositivos móveis como smartphones”, enfatiza Rozestraten.

Kalinka Castelo Branco, do ICMC USP – Foto: Divulgação/Arquigrafia

Sobre os avanços esperados nesta fase a professora Kalinka complementa: “Na parte computacional, queremos uma plataforma que permita uma vivência e uma experiência não só de aprendizado, mas de interação, participação e integração. Queremos que a plataforma seja rápida e eficiente, e que possa ser integrada com outras plataformas existentes”, explica.

A partir do seu aspecto multidisciplinar a professora da área da computação destaca ainda que a multi e a interdisciplinaridade é algo que permite uma vivência mais ativa e a aplicação de conceitos já sedimentados em uma determinada área em outra. “Essa experiência alavanca e permite que a ciência evolua, que as áreas evoluam. Para a computação é algo que permite materializar conceitos, técnicas, métodos e ferramentas que usamos e ou desenvolvemos”, esclarece.

A equipe de pesquisadores do projeto Arquigrafia dedica-se a questões relativas à investigação interdisciplinar sobre as condições contemporâneas de constituição de ambientes colaborativos autônomos na Web, o que demanda um campo experimental de atuação. Tal campo, de um lado, retoma a realização de experiências sensíveis enraizadas em lugares concretos e específicos da cidade de São Paulo – considerando a metrópole como fenômeno e como metáfora de diversidade conflituosa que caracteriza a internet – e, de outro lado, propõe explorar experimentalmente a “desconstrução” e a apropriação contra-hegemônica de elementos e estruturas funcionais disponíveis on-line tais como redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, Youtube e outras), freeware, open source software, hyperlinks, valendo-se da web semântica e de analogias com as noções de: montagem, advinda do cinema; colagem, das artes plásticas; de bricolagem; e de pré-fabricação, oriunda da arquitetura moderna industrial.

A ideia é que tais esforços resultem em protótipos experimentais concretos e consistentes para uma autonomia crítica na Web 4.0. Na opinião do coordenador do projeto, pretende-se que tais experiências particulares – devidamente analisadas, criticadas e aperfeiçoadas – embasem uma contribuição universal, mais abrangente, propriamente científica, tecnológica e metodológica, que produza referenciais teórico-conceituais com potencial para serem livremente reapropriados. “Nossa perspectiva é que estes aspectos repercutam na transformação, atualização, reorientação e revisão de diretrizes referentes ao desenvolvimento das interações entre ambientes urbanos e ambientes colaborativos na Web 4.0 para o século 21”, finaliza.

Para conhecer o projeto Arquigrafia, basta acessar o site da plataforma: www.arquigrafia.org.br, lá é possível encontrar outras informações e consultar o acervo. Por estar em reformulação, em breve será possível se cadastrar e colaborar com a inserção de novos materiais. O contato com o grupo é pelo e-mail arquigrafiabrasil@gmail.com.

O que dizem os usuários

Contando atualmente com mais de 3 mil usuários cadastrados na plataforma, todos reconhecem o papel importante do Arquigrafia e colaboram para ampliar o acervo de material disponibilizado para consulta.

Fernando Gobbo, arquiteto

 

 

Sou cadastrado desde 2013 e subo registros na plataforma desde essa época. Ter um cadastro permite baixar as imagens em altíssima qualidade. Isso, por si só, já deveria ser suficiente para que todos aqueles que gostam de arquitetura se cadastrem. Mas, além disso, ter uma conta na plataforma permite subir imagens, compartilhar ideias, avaliar as representações, comentar, ou seja, contribuir para que muitas dúvidas que circundam essas imagens se dissipem. Como em uma rede social, o mais legal do Arquigrafia é poder contribuir para o debate.

 

Ricardo Makino, aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU

 

 

Eu conheço o projeto Arquigrafia desde que eu entrei na FAU em 2019; na época já existiam muitos alunos envolvidos, tanto alunos da pós-graduação quanto da graduação e de outros institutos. É um projeto premiado e muito interessante, pois traz essa colaboração audiovisual e fotográfica das memórias arquitetônicas da nossa cidade, bem como de outros ambientes. Isso colabora para a nossa visão expandida acerca da arquitetura, não só sobre construções, mas sobre imagens, interpretação, composição, contrastes e cores, importantes para a arquitetura e os amantes de fotografia.

 

Gabriela Oliveira, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU

 

 

Para mim o Arquigrafia é um projeto muito importante tanto para a academia quanto para a sociedade por democratizar o acesso às imagens do acervo. Durante o nosso curso nós trabalhamos muito com pesquisas e, nesse sentido, utilizamos imagens tanto para conhecer e estudar os edifícios quanto para analisar detalhes através das fotografias. Por isso eu acho que é importante ter uma plataforma que seja pública e que ajude no acesso às imagens. Tenho certeza de que mesmo após formada eu vou, em algum momento, usar a plataforma no meu trabalho.

 

 

Isabela Dias, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU

 

 

Considero a plataforma Arquigrafia fundamental para as pesquisas que necessitam de imagens. Para mim o Arquigrafia foi muito importante, principalmente, durante a pesquisa de iniciação científica que eu desenvolvi, pois tive que trabalhar bastante com imagens de matérias de jornais e de acervos públicos. Ter uma plataforma para encontrar essas imagens e fotografias torna a pesquisa mais fácil, ainda mais por ser um acervo que está disponível não só para quem estuda na FAU-USP, mas também para todos os alunos da USP e até de outras instituições de ensino do Brasil.

 

Mariano Moreno, aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU

 

 

Acredito que a iniciativa do Arquigrafia é bastante importante, principalmente para os alunos de graduação do curso de Arquitetura, pois às vezes precisamos ter informações sobre certos edifícios que não disponibilizam muitas informações na internet, por exemplo, ou são difíceis de termos acesso a eles. Por isso um projeto que visa proporcionar especificamente esse tipo de informação ajuda bastante, pois disponibiliza imagens e dados direcionados na hora de fazer uma pesquisa ou mesmo para que as pessoas conheçam particularidades de determinados edifícios ou ambientes.

 

Diogo Augusto Pereira, arquiteto e urbanista e pesquisador universitário

 

A plataforma Arquigrafia contribui muito com a sociedade por tornar públicas e disponíveis na web, sob licença creative commons, imagens de arquitetura de origem institucional, como as imagens digitalizadas da biblioteca e laboratórios da FAU e de colaboradores, sejam alunos, professores ou entusiastas de arquitetura e cidades. Para a pesquisa em arquitetura a disponibilidade de imagens licenciadas é fundamental, pois amplia um acervo que fica disponível para o debate e produção de artigos e teses o que até pouco tempo era restrito e com licença de uso controlada.

 

 

 

Por Ulysses Varela – Jornal da USP

Ulysses Varela é jornalista bolsista JC-3 Fapesp junto ao projeto Experiência Arquigrafia 4.0

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