Fascículo “Lições da pandemia”, que faz parte do livro sobre os 60 anos da Fapesp, traz alguns dos principais cientistas paulistas analisando ações de combate ao vírus
Os primeiros despachos das agências internacionais de notícias – Reuters e Associated Press – alertando para a gravidade dos casos de pneumonia viral identificados em Wuhan, na China, foram distribuídos no dia 31 de dezembro de 2019, às 18 horas, horário de Brasília. “Quase ninguém leu”, lembra o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP. A “tradição gregoriana de calendário”, como ele diz, atrasou o reconhecimento do risco de contágio global representado pelo Sars-CoV-2. “Quem conhece a história das pandemias imediatamente ficou em alerta esperando o grande desastre. E infelizmente foi o que aconteceu”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp).
As instituições de pesquisa se mobilizaram rapidamente. “A velocidade com que os pesquisadores se comunicam é muito maior do que a que políticos e gestores de diferentes lugares se conectam. Conseguimos estabelecer vários canais, debates, troca de informação e ideias que ajudaram a reagir”, relata o médico Esper Kallás, professor do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FM.
A cronologia das ações de combate ao vírus implementadas pela comunidade científica paulista com apoio da Fapesp – as iniciativas de tratamento da Covid-19 e o desenvolvimento de vacinas – é descrita no capítulo Reação em velocidade recorde, que abre o 9º fascículo dos dez que vão compor o livro Fapesp 60 anos – Ciência, Cultura e Desenvolvimento.
Enquanto o Hospital das Clínicas da FM, por exemplo, ativava o Comitê de Crise para ofertar leitos de terapia intensiva e de enfermarias, a Fapesp lançava chamada de propostas no valor de R$ 30 milhões para apoiar projetos que oferecessem resposta aos desafios impostos pelo coronavírus. Em apenas quatro dias, a Fundação abriu o edital, recebeu, avaliou e aprovou o primeiro dos 60 projetos selecionados, lembrou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação.
O capítulo 2 – A Ciência de prontidão – dá detalhes do clima de urgência que tomou conta dos laboratórios de pesquisas que isolaram e estabeleceram linhagens de cultivo in vitro do vírus a serem enviadas a outros laboratórios, ou que sequenciaram o SARS-CoV-2 apenas 48 horas depois de o vírus ter sido identificado no primeiro paciente brasileiro.
Relata os testes clínicos das vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca, bem como o desenvolvimento, pelo Instituto Butantan, de um soro anticoronavírus e de vacinas multigênicas. O presidente da entidade, Dimas Covas, assina um dos artigos que integram o fascículo, intitulado Ciência deve vir antes de política.
O segundo capítulo menciona, ainda, o apoio da Fapesp a oito projetos de pesquisa sobre novas vacinas, além das investigações que têm como objetivo entender os efeitos da Covid-19 em populações e grupos específicos, como as desenvolvidas pela geneticista Mayana Zatz no Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (Cegh-Cel) da USP. A pesquisadora assina um artigo intitulado Ciência Básica com resultados práticos.
Construção coletiva do conehcimento
Com o título Conhecimento para orientar políticas e reduzir desigualdades, o terceiro capítulo relata iniciativas da Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas, formada por mais de cem pesquisadores de 15 instituições, que produziu dados e conhecimento técnico-científico para subsidiar setores de governos; e do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), que analisou o impacto da vacinação e de ações sanitárias na capital paulista.
O fascículo conclui que a forte capacidade de resposta de São Paulo à pandemia deve ser creditada à solidez das instituições, ao legado de apoios e aos investimentos de pesquisa ao longo das últimas décadas, notadamente pela Fapesp. Jean Pierre Schatzmann Peron, da USP, menciona, como exemplo, o arcabouço de conhecimento, a organização de redes de cooperação e os investimentos realizados pela Fundação durante a epidemia de zika, que ajudaram na pronta reação novo coronavírus.
A pandemia deixou uma série de lições para o futuro que se materializarão, por exemplo, numa chamada para um grande programa de infraestrutura de pesquisa, a ser lançada em breve pela Fapesp. Mas não só, de acordo com Zago, a pandemia foi “uma experiência científica, com testes, hipóteses e métodos. Uma construção coletiva da qual participaram ativamente governantes, universidades, técnicos de secretarias, dirigentes de hospitais, médicos, enfermeiros, toda a comunidade científica. Todos escreveram juntos uma história de conhecimento que é coletivo, e que agora nos deixa muito mais preparados para a próxima epidemia – que um dia virá”.
O fascículo Lições da pandemia está disponível em: 60anos.fapesp.br/livro/#/fasciculo09
Os oito primeiros fascículos do livro – Seis décadas de realizações, DNA da Ciência Paulista, Pioneirismo Digital, Grandes projetos, grandes resultados, Políticas públicas baseadas em evidências e Contribuição social, cultural e artística , Inovação e Empreendedorismo e Diversidade e Inclusão – estão disponíveis em: 60anos.fapesp.br/livro.
Por Jornal da USP
Texto: Agência Fapesp