Artigo – Ranking universitário Research.com: simplificação a ser colocada em perspectiva

Hamilton Varela. Foto: Arquivo pessoal

A plataforma acadêmica Research.com divulgou recentemente os resultados do seu Top University Ranking, uma classificação das universidades que se baseia basicamente na reputação de seus pesquisadores. De acordo com a plataforma, a escolha da metodologia surgiu a partir da necessidade de uma forma transparente de classificação utilizando métricas objetivas. A classificação é feita com base no índice h, incluindo o número de pesquisadores com um índice h igual ou maior que 40 e a soma dos seus índices h, no número de documentos publicados e na soma das citações desses trabalhos. Dessa forma, a plataforma afirma ser a “única que capitaliza o humano como um ativo valioso para instituições de pesquisa e oferece seus dados e procedimentos publicamente de forma totalmente transparente”. Os dados utilizados nessa edição do ranking foram obtidos nas bases do Google Scholar e Microsoft Academic Graph, até o dia 6 de dezembro de 2021.

A simplicidade e transparência são certamente aspectos positivos deste ranking, principalmente quando comparado às classificações mais populares, assentadas em vários parâmetros, incluindo alguns subjetivos. No entanto, além das limitações intrínsecas de parâmetros quantitativos como o índice h, chama a atenção o fato de o ranking da plataforma Research.com utilizar dados absolutos, não normalizados pelo número de professores/pesquisadores de cada instituição.

Os resultados do ranking universitário da Research.com são divididos em áreas do conhecimento. Tomando a área de química como exemplo, nas três primeiras posições estão: Kyoto University, University of Tokyo e University of California (Berkeley). São quatro universidades japonesas, três norte-americanas, uma suíça, uma inglesa e uma chinesa entre as dez melhores. A título de comparação, a edição de 2022 do ranking da Times Higher Education (THE) para a área de ciências físicas, que inclui a área de química, traz a University of California (Berkeley), California Institute of Technology (Caltech) e Princeton University nas três primeiras posições, e a Peking University é a primeira universidade asiática no ranking, em décimo quinto lugar.

A despeito da comparação entre química e ciências físicas, a diferença entre as classificações nos dois rankings pode ser analisada pela utilização de números absolutos pela Research.com. Como exemplo, o Caltech, com cerca de 300 professores/pesquisadores ocupa a segunda posição no THE e a décima sexta no ranking da Research.com. A Universidade de Kyoto tem mais de 3.900 professores e pesquisadores e é a 1ª na Research.com e a 67ª no THE. Comparar os 108 pesquisadores da área de química com índice h maior ou igual a 40 da Universidade de Kyoto com os 37 do Caltech não parece muito instrutivo.

Na química brasileira, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ocupam as três primeiras posições na classificação da Research.com. A USP está classificada na posição 108 no ranking mundial da área de química nesse mesmo ranking. São 28 pesquisadores com índice h de pelo menos 40 e mais de 5.500 publicações. O somatório dos índices h desses 28 pesquisadores é 1.402. Na classificação da Times Higher Education para a área de ciências físicas, a Universidade de São Paulo, Unicamp e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) ocupam a melhor classificação e estão no grupo entre as posições 401–500.

Na USP, além dos professores do Instituto de Química (IQ), na capital, e do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), há entre os 28 listados colegas de outras unidades da USP. São oito no IQ e seis no IQSC, ou seja, apenas metade dos listados. Obviamente, a pesquisa em uma determinada área, como a química, em uma universidade como a USP não está limitada a institutos específicos. Essa distribuição reforça o fato de que o ranking em questão aponta, na melhor das hipóteses, o volume de pesquisa de qualidade feita em uma instituição. Um objetivo mais modesto que o indicado no site da plataforma Research.com: “responder à pergunta sobre qual é a melhor universidade de Química”.

Na segunda colocação no Brasil, a Unicamp está classificada na posição 213 no ranking global da Reseach.com. Dos 16 pesquisadores listados, 11 estão no Instituto de Química da Unicamp. Normalizando o número de docentes com índice h maior ou igual a 40 pelo número de docentes em cada instituto, teríamos: IQ/Unicamp (11/72) = 15,3%, IQSC/USP (6/52) = 11,5% e IQ/USP (8/106) = 7,5%. Esse exemplo robustece a limitação dos dados não normalizados. De fato, além do, importante, parâmetro relacionado ao volume total da pesquisa de qualidade utilizado pelo ranking da Research.com, resultados normalizados como estes podem ser úteis aos candidatos ao bacharelado em Química ou aos programas de pós-graduação, por exemplo. Afinal, graduandos e pós-graduandos não estão ligados simplesmente a uma universidade, mas a uma unidade universitária e/ou a um programa de pós-graduação.

Certamente, fatores como as especificidades da pesquisa de interesse, o entorno acadêmico e científico, a infraestrutura de ensino e pesquisa, a empregabilidade, etc. também são considerados nessas escolhas, mas a simplicidade do ranking da Research.com deve ser vista com cautela. Em meio a tantos e diversos rankings universitários, é cada vez mais importante dissecar os dados, colocando-os em perspectiva.

Por Hamilton Varela, professor Titular do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP/Jornal da USP

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