Pesquisas em parceria: Terreno fértil para a inteligência artificial

Com a crescente evolução da ferramenta tecnológica, consórcio de pesquisadores cria instituto dedicado a estabelecer parcerias entre universidades e empresas (ilustração: Nik Neves / Pesquisa FAPESP)

Em constante crescimento, principalmente nesta década, a inteligência artificial (IA) começa 2019 com mais um incentivo no Brasil. A partir da inauguração oficial do Instituto Avançado de Inteligência Artificial (AI²), prevista para fevereiro, surge mais uma ponte entre universidade e empresa para o desenvolvimento de pesquisas em parceria.

A expectativa é de que a organização promova projetos voltados às mais diversas aplicações, em consonância com a própria multidisciplinaridade desse ramo da ciência da computação.

“A IA busca simular a inteligência humana utilizando não apenas conhecimentos da computação, mas também de biologia, engenharias, estatística, filosofia, física, linguística, matemática, medicina e psicologia, apenas para citar algumas áreas”, enumera o cientista da computação André Carlos Ponce de Leon Carvalho, vice-diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), coordenador do Núcleo de Pesquisa em Aprendizado de Máquina em Análise de Dados, ambos da Universidade de São Paulo (USP), e um dos integrantes do futuro instituto.

Organizado como um consórcio de pesquisadores de inteligência artificial, o AI² reúne especialistas de algumas das maiores universidades do país – todas localizadas no Estado de São Paulo – que oferecerão sua expertise para o desenvolvimento de projetos de interesse acadêmico e comercial.

O físico Sérgio Novaes, do Núcleo de Computação Científica da Universidade Estadual Paulista (NCC-Unesp) e organizador do grupo, explica que o instituto não pretende se limitar aos pesquisadores de São Paulo ou mesmo do Brasil: “Nossa meta é agregar parcerias no mundo inteiro para a realização de projetos de grande impacto socioeconômico”.

Segundo Novaes, o suporte financeiro do instituto virá de seus parceiros privados. “O dinheiro será utilizado no recrutamento de recursos humanos, organização de eventos, mobilidade de pesquisadores e, eventualmente, aquisição de software e hardware”, explica.

A intenção é estabelecer colaborações que envolvam interesses recíprocos e convergentes para que o AI² possa desenvolver atividades relevantes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e não apenas como meros prestadores de serviços para o setor privado. O instituto não terá sede própria.

“O modelo envolve espaços de coworking nas instituições participantes ou fora delas, conectados por meio de um sistema de telepresença”, detalha. Os professores que atuarão como mentores dos projetos com o setor privado deverão ficar em suas instituições de origem e o pessoal das empresas continuará em suas respectivas sedes.

Não é por acaso que o AI² reúne, inicialmente, pesquisadores paulistas. O estado e, em especial, a cidade de São Paulo apresentam uma grande concentração de empresas, pesquisadores e mão de obra qualificada, o que representa um poderoso atrativo para o desenvolvimento de novas tecnologias. Historicamente, o estado também concentra pesquisadores nessa área de conhecimento.

O Departamento de Matemática da USP tem visto as pesquisas em IA triplicarem nos últimos três anos, afirma o cientista da computação Roberto Marcondes Cesar Junior, do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e coordenador do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

“Muitos de nossos alunos são absorvidos por startups do setor”, relata. Essa é a mesma percepção da cientista da computação Ana Carolina Lorena, da Divisão de Ciência da Computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP). “Alunos de graduação e orientandos de pós-graduação estão sendo contratados por empresas para desenvolver sistemas de IA”, conta a pesquisadora.

O apoio de agências de fomento como a FAPESP tem sido determinante para a evolução do setor no Estado de São Paulo, sobretudo por meio de programas como o Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

“Entre as agências de fomento, a FAPESP é a que mais apoia startups avançadas”, ressalta Sérgio Queiroz, coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da FAPESP e professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A partir de 2012, o número de projetos PIPE concedidos em IA apresentou um significativo crescimento. Foi o que constatou o engenheiro eletrônico Marcelo Finger, chefe do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP. No dia 26 de novembro, em evento realizado pela Fundação com o Instituto do Legislativo Paulista – o Ciclo ILP-FAPESP –, coube a Finger dar um panorama da pesquisa em IA em São Paulo.

“A FAPESP apoia projetos de inteligência artificial desde 1992. Em 1997, quando começou o PIPE, havia uma média de cinco projetos por ano nessa área do conhecimento. Nos últimos dois anos esse número saltou para 40”, relata.

Entre os projetos é possível encontrar pesquisadores estrangeiros atraídos pelo alto nível da pesquisa realizada e pelas boas condições de trabalho. Um exemplo é o inglês Brett Drury, que desenvolve, com apoio do PIPE, um sistema inteligente de análise de risco para a agricultura. “Vim para o Brasil por causa do grande mercado agrícola, da excelente reputação da USP e do meu orientador, Alneu de Andrade Lopes”, lembra.

Drury conta que conheceu o cientista da computação Lopes, do ICMC-USP, em 2013, quando fazia seu doutorado na Universidade do Porto, em Portugal, trabalhando em um sistema de previsão voltado ao mercado de ações. No estágio de pós-doutorado trocou o mercado de ações pelas commodities: sob supervisão de Lopes, com bolsa da FAPESP, estudou rendimentos da cana-de-açúcar.

Agora, como pesquisador-chefe da empresa SciCrop, com sede em São Paulo, desenvolve uma ferramenta computacional para avaliação do risco envolvido em cultura agrícola, com base em dados provenientes de fontes textuais, satélites, meteorologia, séries históricas de produtores e até mesmo notícias relacionadas a fatores econômicos e sociais. “O sistema ajudará na decisão de hedging [a adoção de estratégias para proteger o investimento contra possíveis perdas]”, diz.

Além desse tipo de apoio, este ano a FAPESP vai financiar 10 minicursos, com seis a oito horas cada um, com pesquisadores estrangeiros e brasileiros no IME-USP, sobre aprendizado de máquina, aprendizagem estatística, sistemas de bancos de dados e computação de alto desempenho e aplicações com impacto social. Os cursos ocorrerão dentro da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada.

Leia a notícia completa em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2019/01/09/terreno-fertil-para-a-inteligencia-artificial/

Por Suzel Tunes – Revista Pesquisa FAPESP

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