Alunos do IQSC são destaque em Simpósio Internacional da USP  

Três alunos de graduação do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP: Beatriz Monteiro, Henrique Fonseca e Sabrina Botelho, foram contemplados com a Menção Honrosa na etapa internacional do SIICUSP – Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica da USP, realizado no último dia 5 em São Paulo (SP), o que os coloca entre os concorrentes dos dez trabalhos que serão apresentados pelo respectivo autor, em eventos realizados por universidades estrangeiras em 2020.

Todos os alunos do IQSC-USP ingressaram no Bacharelado em Química em 2016 e apresentaram seus trabalhos em língua inglesa, requisito da etapa internacional do SIICUSP.

Fotos: respectivos acervos pessoais.

Material antimicrobiano mais resistente

O trabalho apresentado por Beatriz dos Santos Monteiro foi desenvolvido durante projeto de iniciação científica sob orientação da cientista Carla Cristina Schmitt Cavalheiro, do Grupo de Fotoquímica.   Seu trabalho  Nanocomposites of chitosan/halloysite as Ag stabilizers: preparation and characterization  contou com o  auxílio da doutoranda Juliana dos Santos Gabriel.

O projeto levou a um material formado por quitosana e uma argila natural, a haloisita, que posteriormente foi utilizado para estabilizar nanopartículas de prata, conferindo maior resistência ao material.

A quitosana é produzida a partir da quitina, encontrada em crustáceos (camarão, caranguejos e lagostas, por exemplo), sendo portanto, um produto natural e renovável. A carapaça dos crustáceos é um resíduo abundante e rejeitado pela indústria pesqueira, portanto encontrar formas de utilização desse recurso reduzirá o impacto ambiental causado pelo acúmulo nos locais onde é gerado. Beatriz informa que “a quitosana é um polímero [uma molécula muito grande formada por repetição de moléculas menores] com várias propriedades interessantes, destacando sua ação antimicrobiana. Porém, seu uso é limitado devido a algumas propriedades.  Com a adição da argila, a quitosana pôde ser aprimorada, ampliando as possibilidades de aplicação”.

A aluna destaca que um resultado obtido pela junção da quitosana com a haloisita foi na estabilização de nanopartículas de prata. Tornar o material estável quimicamente significa diminuir a possibilidade de mudanças, como a corrosão, por exemplo. “Este material [nanopartículas de prata], devido às suas propriedades antimicrobianas, é utilizado em filtros de água. Saber que este é capaz de manter as nanopartículas resistentes em um ambiente de pH mais ácido, amplia sua aplicação”, complementou.  Nanopartículas de prata também são utilizadas em talheres, instrumentos cirúrgicos, sensores, conversores de energia e chips eletrônicos, entre outros.

Questionada sobre a motivação para fazer o projeto de iniciação científica, a aluna respondeu “O que me levou a fazer a IC foi a vontade de estar mais perto de uma atividade prática relacionada a química, mais especificamente algo relacionado com a ênfase de materiais, que foi minha escolhida. Foi uma decisão muito gratificante não somente pelo conhecimento em si, mas também pela motivação de estar envolvida, desenvolvendo e sendo capaz de concluir um projeto”.  Durante o período do projeto Beatriz recebeu bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Participar do Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica da USP foi “uma experiência empolgante e animadora”, informou. “Afinal esse é o primeiro momento dentro de uma carreira em construção em que temos nossos trabalhos reconhecidos, sendo algo concreto e não somente algo limitado à graduação e professores. Alcançar uma conquista em um cenário tão abrangente quanto num evento internacional traz muita alegria e também muito orgulho”, completou.

Sobre a expectativa de ser selecionada para representar a Universidade em instituição estrangeira, reconhece que “ficaria muito feliz em por poder apresentar meu trabalho e por representar a instituição; essa satisfação seria o bastante para me sentir confiante e ser capaz de apresentar o projeto da melhor forma possível”.

Retirar, estocar e transformar o gás carbônico atmosférico

Henrique Alves Bacco Fonseca recebeu a menção honrosa com o trabalho  Ab initio study of the electronic and structural properties of two-dimensional tungsten dichalcogenides (ws2)16 in CO2 reduction and fe doping effects  orientado pelo cientista Juarez Lopes Ferreira da Silva, coordenador do Grupo de Teoria Quântica de Nanomateriais do IQSC-USP.  A proposta é retirar o gás carbônico da atmosfera e aproveitá-lo de alguma forma.

Ele lembra que muitos dos problemas climáticos do planeta atualmente são causados por ações humanas, como por exemplo a emissão de gases que causam o efeito estufa, como dióxido de carbono (conhecido como gás carbônico) e metano, dispersos na atmosfera. “Normalmente nós pensamos “bom, é só parar a emissão desses gases que fica tudo bem. É só substituirmos por fontes limpas e renováveis”, certo?”  instiga o jovem, que completa “Errado!”.  Ele esclarece que se pararmos agora, por completo, com a emissão de gás carbônico na atmosfera sua concentração irá diminuir, entrar em equilíbrio e estabilizar apenas daqui a mil anos!  “Nós não temos esse tempo. Temos que arrumar outro jeito. Uma das possibilidades então é retirar, estocar e transformar esse dióxido de carbono já disperso na atmosfera em outros materiais”, completa.

É aí que entra a pesquisa que ele desenvolve e está iniciando seu segundo ano de bolsa da Fapesp. Henrique explica que “os dicalcogenetos de metais de transição são materiais que possuem diferentes propriedades que podem ser controladas com a adição de elementos ou até mesmo modificando sua estrutura no espaço. Eu pesquiso sobre essas diferentes propriedades e como elas são modificadas quando é colocado um átomo de ferro, tudo isso em escala muito pequena, cerca de 49 átomos no total”.

Quem acha que ele usa vidrarias, solventes e reagentes e faz a pesquisa em bancada de laboratório se engana.  Apesar de ainda estar cursando a graduação, através do grupo de pesquisa do IQSC-USP ele usa computadores ultrapotentes para resolver equações e cálculos complexos, que apresentam resultados comparáveis com os resultados obtidos nos laboratórios pelos grupos de pesquisas experimentais.  “Com esse material eu espero que a molécula de dióxido de carbono se ligue nele e lá ocorra alguma transformação, como por exemplo estudar a transformação dele em ácido fórmico, que possui aplicações em diversos lugares, como na indústria têxtil, medicina, corante, entre outras”.

Questionado se está preparado para viajar, caso seja escolhido, afirmou “eu nunca viajei de avião, tampouco para outro país. Estou em processo de obtenção do meu passaporte e estarei pronto para essa nova experiência e desafio, caso eu seja selecionado”.

Identificação de potencias fármacos para o tratamento do câncer de pâncreas

Sabrina Mendes Botelho apresentou o trabalho  Cytostatic activity and selectivity of cysteine protease-inhibiting dipeptidyl nitrile derivatives in pancreatic cancer lineage,  desenvolvido sob orientação do cientista Andrei Leitão, do Grupo de Química Medicinal do IQSC-USP.

A pesquisa “visa identificar potencias fármacos para o tratamento do câncer de pâncreas, mais especificamente no controle da proliferação e possível processo metastático, visto o alto número de óbitos causados por esta doença especificamente”, informou a aluna.  Esse tipo de câncer além de agressivo, é de difícil detecção; o diagnóstico tardio aumenta a taxa de mortalidade.

A Menção Honrosa do trabalho foi obtida na área Ciências Biológicas, mostrando a interdisciplinaridade da Química com outras Ciências. “Meu trabalho é relacionado à área de ciências biológicas, na parte de ensaio biológico”, explicou a aluna de graduação em Química. “Muito inspirador a continuar na área, visto que ter participado e recebido menção, mostra a importância do estudo em questão”, acrescentou.

Por que fazer iniciação científica?  “Sempre me interessei muito pela área de pesquisa e desenvolvimento, principalmente no ramo de estudos medicinais. Quando fiquei sabendo que o Prof. Dr. Andrei Leitão trabalhava com isso fui conversar com ele para conhecer o laboratório. Me identifiquei com a linha de pesquisa e comecei a iniciação científica em agosto de 2017”, respondeu Sabrina, que é bolsista da FAPESP e disse estar preparada para representar a universidade no exterior, caso seja selecionada.

Língua inglesa

Os três alunos foram unânimes em concordar que a fluência em língua inglesa é fundamental no meio acadêmico, tanto para ampliar a aquisição de conhecimento quanto para divulgar o trabalho.

Para Henrique Fonseca, “a fluência em inglês é de suma importância, já que é a língua considerada “universal”.  A maioria dos artigos publicados no mundo todo, todos os dias, são em inglês.  Quanto mais à vontade a pessoa estiver com a língua inglesa maior vai ser o alcance e facilidade de obter novos conhecimentos”.

Na mesma direção, Beatriz Monteiro afirmou que “conhecer a língua é realmente muito importante, pois uma vez que a mesma é amplamente difundida, aumenta-se a abrangência para chegar ao conhecimento de diferentes partes do mundo e também no momento de divulgá-lo, como uma ponte de comunicação para as demais regiões”.  Como exemplo, mencionou que “algumas das referências utilizadas são de origem chinesa, devido ao [meu] conhecimento do inglês foi possível que tivéssemos, de modo facilitado, acesso às informações encontradas naqueles trabalhos”.

Questionada sobre a importância que atribuiu à fluência em inglês, Sabrina Botelho afirmou: “extrema importância”.

Assim como o acesso a trabalhos de outros pesquisadores é facilitado pela fluência em inglês, o conhecimento do idioma também é importante para a divulgação do próprio trabalho. “Fazendo-se uma projeção, com o nosso trabalho em inglês, também seria possível que eles tivessem acesso ao nosso”, falou Beatriz.  Referindo-se ao fato de que a universidade é um meio muito propício ao contato com cientistas de outras nações, Sabrina explicou que “rotineiramente me deparo com inúmeros casos onde necessito da fluência em inglês, seja para ler e compreender um artigo científico, ou mesmo, como o caso do SIICUSP, estar preparada para explicar meu trabalho para alguém”.

Universidades estrangeiras   

Dentre todos os destacados com a Menção Honrosa, dez serão selecionados para apresentarem seus trabalhos em instituições estrangeiras e terão suas despesas com passagens aéreas, hospedagem, seguro-viagem e alimentação pagas pela Pró-Reitoria de Pesquisa.  O resultado será divulgado em janeiro de 2020.

A relação dos trabalhos contemplados com Menção Honrosa está disponível clicando aqui.

Por Sandra Zambon (Comunicação IQSC)

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