USP quer ampliar rede de cuidados em saúde mental na universidade

Conheça cuidados e programas da USP para manter o bem-estar e promover a cultura do cuidado durante a graduação

Entrar na universidade é uma grande mudança na vida do ingressante, acompanhada de sentimentos de euforia e ansiedade pelo que está por vir. Porém, para além dessa animação, os cuidados com a saúde mental merecem atenção no processo de adaptação à rotina universitária, especialmente para os jovens que saíram recentemente da escola e dos cursinhos preparatórios. Passado esse primeiro momento, ainda assim podem surgir dificuldades ao longo da graduação que podem afetar a saúde em níveis que merecem atenção. Há alguns programas na USP que buscam promover o bem-estar da comunidade, sendo a prevenção do adoecimento uma das frentes de cuidado.

Em 2021, ano pandêmico, quase metade da comunidade USP não estava bem mentalmente, de acordo com os resultados do Questionário PRIP: Inclusão e Pertencimento na USP, realizado em 2022 pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP). Proporcionalmente, os alunos estão em mais sofrimento: em primeiro lugar, os de graduação e, em segundo, os de pós. Os números de problemas de saúde mental vêm crescendo no Brasil, mas “os estudos mostram que a Universidade é um local especialmente crítico”, afirma Ricardo Teixeira, diretor de Saúde Mental e Bem-Estar Social da PRIP e professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

A pesquisa perguntava à comunidade universitária sobre suas experiências e percepções nos ambientes institucionais, com o objetivo de “promover propostas e políticas visando à maior inclusão e pertencimento na Universidade”, diz a PRIP em comunicado de divulgação enviado em agosto pelo e-mail institucional. Uma parcela dos resultados já pode ser conferida na exposição interativa Clima Institucional na USP: primeiros resultados do Questionário Inclusão e Pertencimento de 2022, instalada no Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), até o dia 26 de maio.

A abertura do evento, que ocorreu no dia 26 de abril, pode ser assistida no canal da PRIP no YouTube. Confira mais informações nesta matéria do Jornal da USP e um resumo dos resultados disponíveis neste artigo escrito por membros da PRIP. O balanço completo da pesquisa será divulgado em breve.

Ricardo Teixeira, diretor de Saúde Mental e Bem-Estar Social da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento – Foto: Divulgação/Prip

Segundo Teixeira, alguns elementos que permeiam a USP e ajudam a entender os números do questionário são a extrema competitividade, que permanece mesmo após o aluno enfrentar a disputa do ingresso na Universidade, e o hiperprodutivismo, em que os docentes exigem metas “inalcançáveis” de seus alunos.

Nesse cenário, os grupos mais atingidos são os estudantes com condições socioeconômicas desfavoráveis e de minorias raciais, sexuais e de gênero, que passaram a ocupar a Universidade em maior volume a partir da política de cotas. Além do racismo, LGBTfobia e outras discriminações, eles enfrentam mais dificuldades para acompanhar os dois primeiros anos do curso que seus colegas de camadas sociais melhores, aponta Teixeira. Essa realidade também foi confirmada pela pesquisa da PRIP.

Então, para levar o ano letivo bem e evitar o desenvolvimento de problemas, atente-se a essas dicas gerais:

As sugestões são de alunos de graduação da USP, provenientes de cursos de todas as áreas e com vivências universitárias variadas, que atuam sendo “escutadores” numa frente de atendimento do Programa Ecos: Escuta, Cuidado e Orientação em Saúde Mental como bolsistas do Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Estudantes da Graduação (PUB). O Programa Ecos reúne as medidas da política de saúde mental da USP e foi criado pela Diretoria de Saúde Mental e Bem-Estar Social da PRIP. “A política de saúde mental que nós estamos traçando tem uma ênfase na promoção de saúde mental e na prevenção de transtornos mentais”, afirma Teixeira.

Equipe de escuta do programa Ecos. Da esquerda para a direita: Filipe Buchmann, psicólogo; Jackson Santos Souza, bolsista PUB; Eduarda Rodrigues, bolsista PUB; Rodrigo Mendes, assistente social; Greice Oliveira, assistente social – Foto: Luísa Hirata/USP Imagens

E se eu precisar de ajuda?

Se em algum momento da graduação você quiser conversar sobre questões que estão te afligindo, o Ecos possui um espaço de escuta para acolhimento inicial, identificação do problema e, se necessário, encaminhamento médico. Pode ser qualquer tipo de dificuldade com as tarefas e ambientes acadêmicos, ou se você suspeitar que desenvolveu um transtorno. O espaço atende alunos de graduação e pós-graduação, docentes e funcionários da USP.

A proposta da escuta é dar orientação para problemas de saúde mental, álcool e outras drogas. Caso a sugestão seja buscar tratamento, há um encaminhamento para as redes de saúde e assistência dentro e fora da Universidade. O atendimento médico, seja por psicoterapia ou psiquiatria, é somente uma das possibilidades para o cuidado com a saúde mental, e, por isso, não indicado para todos os casos. “Há muitas atividades que podem beneficiar a saúde mental das pessoas”, afirma Ricardo.

Em especial para os alunos cotistas, problemas como a dificuldade para acompanhar os conteúdos da graduação por conta das disparidades na qualidade do ensino básico podem levar o estudante a duvidar sobre sua capacidade de continuar o curso. Comparando-se com os colegas, ele pode se sentir isolado, afetando seu bem-estar. Essa angústia pode ser diminuída por meio da integração do estudante a coletivos e de práticas físicas e culturais.

Situações como essas, de estresse ou tristeza, também têm espaço para serem ouvidas pela equipe do Ecos. E elas não são patológicas, destaca Ricardo Teixeira. “Ele não tem diagnóstico. Não precisa de um psiquiatra, mas talvez de alguém que escute que ele está angustiado com isso”, explica. Mas alerta: se não forem cuidadas, há chances de a pessoa desenvolver algum transtorno.

Atendimento em saúde mental fornecido pelo Programa Ecos é individual e presencial – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A escuta do Ecos é sigilosa e acontece em sessões presenciais entre pares, realizadas por um membro da equipe especializada, composta de psicólogos, assistentes sociais e um enfermeiro com treinamento em saúde mental, acompanhado de um bolsista. Você tem a opção de pedir para que o bolsista não participe da sessão, por ser um conhecido seu ou outro motivo pessoal.

O atendimento ocorre na sede do Ecos, no campus da USP no bairro do Butantã, no favo 22 das Colmeias (próximo ao Bandejão Central), localizado na Rua do Anfiteatro, 181, de segunda a sexta, das 8 às 17 horas, sem necessidade de agendamento. O programa Ecos não fornece atendimento médico (consultas e prescrições). Em caso de emergência, a PRIP orienta buscar os prontos-socorros psiquiátricos do Sistema Único de Saúde (SUS). A referência para o campus Butantã é o Pronto-Socorro da Lapa, na Avenida Queiroz Filho, 313, telefone (11) 4878-1701.

Cultura do cuidado na USP

A meta da política de saúde mental do programa Ecos é promover a cultura do cuidado no ambiente universitário, melhorando as relações entre as pessoas. “A comunidade precisa ter uma atenção maior ao outro”, afirma Teixeira. Para os docentes, por exemplo, que têm um grande impacto nos estudantes, uma das propostas é alterar a concepção de seu papel como não só um repassador de conteúdo, mas um profissional que tem uma função cuidadora perante seus alunos.

Para casos de suicídio na comunidade USP, a equipe do Ecos oferece apoio de posvenção, a partir de medidas de cuidado protocoladas para tratar o sofrimento dos círculos de pessoas próximas do falecido, inclusive da família. Além de rodas de conversas, se for necessário, a equipe realiza atendimentos individuais.

O Ecos já está com outras ações programadas, algumas com data para este semestre. Confira:

Próximas atividades do Programa Ecos

Formação de “escutadores e brigadistas de saúde mental”

Principal estratégia do programa, com equipes em todas as unidades e órgãos USP, adaptadas de acordo com suas necessidades e formadas por seus alunos (graduação e pós), docentes e funcionários interessados em participar. O “escutador” atuará na escuta que o Ecos conduz em sua sede, enquanto o “brigadista” fará o primeiro atendimento em casos de emergência de saúde mental.

Curso de extensão para treinar os escutadores e brigadistas

Treinamento durará um semestre. Está previsto para o segundo semestre, com o nome Promoção da saúde mental e acolhimento de sofrimentos psicossociais em contextos universitários. As inscrições serão feitas pelo sistema Apolo.

Curso de difusão Saúde mental na USP: inclusão e pertencimento

Para apresentar, de forma introdutória, a proposta de política de saúde mental da PRIP para a comunidade universitária e formar um fórum de discussão permanente sobre o tema. A segunda edição do curso deve acontecer ainda no primeiro semestre.

O curso teve sua primeira edição no ano passado, com coordenação de Ricardo Teixeira e Miriam Debieux Rosa, pró-reitora adjunta da PRIP e professora do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Foram promovidas aulas expositivas e fóruns de debate para expor a política da PRIP, receber dúvidas e relatos sobre a atual situação do sofrimento na USP e oferecer orientações sobre o trato de casos de suicídio e crises de saúde mental.

Semana de Saúde Mental da USP, de 15 a 19 de maio

O dia 16 foi eleito como Dia da Saúde Mental na USP, reservado para que toda a Universidade discuta o bem-estar e adoecimento mental. A data acompanha a Semana do Movimento da Luta Antimanicomial, que busca a humanização e o fim das violências no tratamento em saúde mental no Brasil.

A programação do evento traz rodas de conversa, seminários, uma mostra artística e outras atividades para debater a saúde mental coletiva na atualidade, os impactos da pandemia, as políticas de saúde mental do Brasil e as que estão sendo propostas para a Universidade. A equipe do Ecos estará na Praça do Relógio para atender o público com rodas de conversas e escutas. A programação completa estará disponível no site da PRIP. O evento tem apoio da Reitoria e fará parte do calendário anual da USP.

Mapa de Saúde Mental da USP

Lançamento do Mapa de Saúde Mental da USP, um guia on-line completo com a relação de serviços de saúde mental disponíveis nas unidades de todos os campi e também fora da Universidade, entre grupos de acolhimento e espaços culturais e esportivos, com filtros de busca para os tipos de demandas. O mapa está previsto para ser disponibilizado até o final deste semestre.

 

Projeto Acalourando convida os ingressantes para discutir saúde mental – Foto: Divulgação/Programa Ecos

Além desses objetivos, por iniciativa dos bolsistas do Ecos, o projeto Acalourando oferece rodas de conversa com os ingressantes para falar sobre os desafios da nova rotina e outros tópicos em saúde mental, além de ser um espaço para a construção de redes de apoio. As conversas começaram no final de março e acontecem semanalmente, em duas opções de dias e horários.  É possível se inscrever por meio deste formulário on-line. As informações completas são enviadas ao e-mail dos alunos.

Para entrar em contato com a equipe do Ecos, ligue para (11) 3091-8345 ou mande um e-mail para ecos.prip@usp.br. Acompanhe o programa também pelo Instagram (@saudemental.ecos), uma iniciativa dos bolsistas, mantida com supervisão da equipe técnica, que traz dicas sobre atividades e hábitos benéficos para a saúde mental na vida universitária.

Saúde mental na Medicina

Além do programa coordenado pelos órgãos centrais da USP, algumas unidades contam com projetos próprios para a saúde mental.

Na Faculdade de Medicina (FM), o grupo Acolher FMUSP promove atividades, entre palestras, encontros, rodas de conversa, cursos, oficinas e campanhas educativas, para estimular a motivação, autoestima, integração e resiliência pessoal e institucional nos alunos, docentes e funcionários da unidade. As ações também se voltam a melhorar a relação entre as pessoas e promover a conscientização sobre o adoecimento mental. Você pode acompanhar algumas atividades mesmo sendo de outro curso.

Na palestra Por que lidar com o estresse e cuidar da saúde mental é importante?, de abril do ano passado e disponível aqui, Patrícia falou sobre os efeitos na saúde do acúmulo de estresse, ansiedade e outros sofrimentos. Também explicou que esses momentos são inerentes ao cotidiano acadêmico, mas quando se tornam frequentes, intensos e prolongados devem chamar a atenção. Indicando como lidar com a sobrecarga de tarefas, a psicóloga trouxe exemplos de práticas de autocuidado e outras dicas para equilibrar o trabalho com o lazer que podem ajudar qualquer aluno enfrentando dificuldades na graduação.

“Todo graduando precisa ter em mente que a organização e o planejamento de suas atividades e horários não servem apenas como uma estratégia de produtividade, mas muito mais como uma ferramenta de autocuidado”, aconselham Patrícia e a psicóloga Caroline Nogueira, do Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno da FMUSP (Grapal). Além da sobrecarga, os fatores causadores de estresse que costumam afetar os alunos são dificuldades na convivência com os colegas e professores, problemas financeiros e ansiedades sobre a futura profissão. Esse planejamento permitirá incluir na rotina os momentos de descanso, socialização, exercícios físicos e cuidados básicos com sono e alimentação.

A programação do Acolher para 2023 ainda está sendo definida, mas você já pode acompanhar o programa no Instagram (@acolher.fmusp).

 

Por Luísa Hirata – Jornal da USP

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